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    Decreto nº 10.306 de 2 de Abril de 2020

    Presidência da República Secretaria-Geral Subchefia para Assuntos Jurídicos

    O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, caput , incisos IV e VI, alínea "a", da Constituição, DECRETA:

    Publicado por Presidência da República

    Brasília, 2 de abril de 2020; 199º da Independência e 132º da República.


    Art. 1º

    Este Decreto estabelece a utilização do Building Information Modelling - BIM ou Modelagem da Informação da Construção na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia, realizada pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal, no âmbito da Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling - Estratégia BIM BR, instituída pelo Decreto nº 9.983, de 22 de agosto de 2019 .

    Parágrafo único

    O<strong> BIM será implementado de forma gradual, obedecidas as fases estabelecidas no art. 4º.

    Art. 2º

    Ficam vinculados às ações de disseminação do<strong> BIM previstas neste Decreto:

    I

    Ministério da Defesa, por meio das atividades executadas nos imóveis jurisdicionados ao Exército Brasileiro, à Marinha do Brasil e à Força Aérea Brasileira; e

    II

    Ministério da Infraestrutura, por meio das atividades coordenadas e executadas:

    a )

    pela Secretaria Nacional de Aviação Civil, para investimentos em aeroportos regionais; e

    b )

    pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT, para reforço e reabilitação estrutural de obras de arte especiais.

    Parágrafo único

    Os órgãos e as entidades da administração pública federal não referidos no<strong> caput poderão adotar as ações de implementação do<strong> BIM nos termos do disposto neste Decreto, independentemente da finalidade do uso do<strong> BIM , prevista ou não neste Decreto, em quaisquer das fases do art. 4º. <strong> Definições

    Art. 3º

    Para fins do disposto neste Decreto, consideram-se:

    I

    ampliação - modificação das características de construção preexistente que resulte no aumento de um dos seguintes parâmetros edificáveis:

    a )

    área de implantação;

    b )

    área bruta de construção;

    c )

    área total de construção; ou

    d )

    quantitativo de pisos acima ou abaixo da cota de soleira;

    II

    -<strong> Building Information Modelling -<strong> BIM ou Modelagem da Informação da Construção - conjunto de tecnologias e processos integrados que permite a criação, a utilização e a atualização de modelos digitais de uma construção, de modo colaborativo, que sirva a todos os participantes do empreendimento, em qualquer etapa do ciclo de vida da construção;

    III

    ciclo de vida da construção - conjunto das etapas de um empreendimento que abrange:

    a )

    o programa de necessidades;

    b )

    a elaboração dos projetos de arquitetura e engenharia em seus diversos níveis de desenvolvimento ou detalhamento;

    c )

    a execução da obra;

    d )

    o comissionamento; e

    e )

    as atividades de gerenciamento do uso e de manutenção do empreendimento após a sua construção;

    IV

    construção nova - estrutura derivada de projeto de arquitetura e engenharia inaugural, não caracterizada como ampliação, reforma ou reabilitação de estrutura preexistente;

    V

    modelo<strong> BIM - base de dados fundamentada em objetos virtuais, que contém informações codificadas e incorpora seus relacionamentos, o que possibilita diversas visualizações, organizações e cálculos que integram informações gráficas e não gráficas;

    VI

    obra de arte especial - estrutura que, em razão de suas proporções e características peculiares, requer projeto específico, tais como pontes, viadutos ou túneis;

    VII

    projeto de arquitetura e engenharia - atividade de criação, conceituação, dimensionamento e planejamento, realizada anteriormente à execução da obra, em qualquer nível de desenvolvimento ou detalhamento, a qual pode se referir a:

    a )

    anteprojeto;

    b )

    projeto básico;

    c )

    projeto executivo; ou

    d )

    outras etapas de projeto não definidas em lei;

    VIII

    reabilitação - processo de intervenção realizado em construção preexistente, que aumente a capacidade de suporte de uma estrutura ou adeque as suas dimensões para suprir necessidades funcionais atuais ou futuras, para fins de aumento da vida útil do empreendimento após a sua construção; e

    IX

    reforma - modificação das características de uma construção preexistente, de modo a alterar componentes originais do projeto de arquitetura e engenharia, desde que o volume e a área inicial não sejam alterados. <strong> Fases de implementação

    Art. 4º

    A implementação do<strong> BIM ocorrerá de forma gradual, obedecidas as seguintes fases:

    I

    primeira fase - a partir de 1º de janeiro de 2021, o<strong> BIM deverá ser utilizado no desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia, referentes a construções novas, ampliações ou reabilitações, quando consideradas de grande relevância para a disseminação do<strong> BIM , nos termos do disposto no art. 10, e abrangerá, no mínimo:

    a )

    a elaboração dos modelos de arquitetura e dos modelos de engenharia referentes às disciplinas de: 1. estruturas; 2. instalações hidráulicas; 3. instalações de aquecimento, ventilação e ar condicionado; e 4. instalações elétricas;

    b )

    a detecção de interferências físicas e funcionais entre as diversas disciplinas e a revisão dos modelos de arquitetura e engenharia, de modo a compatibilizá-los entre si;

    c )

    a extração de quantitativos; e

    d )

    a geração de documentação gráfica, extraída dos modelos a que se refere este inciso;

    II

    segunda fase - a partir de 1º de janeiro de 2024, o<strong> BIM deverá ser utilizado na execução direta ou indireta de projetos de arquitetura e engenharia e na gestão de obras, referentes a construções novas, reformas, ampliações ou reabilitações, quando consideradas de grande relevância para a disseminação do<strong> BIM , nos termos do disposto no art. 10, e abrangerá, no mínimo:

    a )

    os usos previstos na primeira fase;

    b )

    a orçamentação, o planejamento e o controle da execução de obras; e

    c )

    a atualização do modelo e de suas informações como construído (<strong> as built ), para obras cujos projetos de arquitetura e engenharia tenham sido realizados ou executados com aplicação do<strong> BIM ;

    III

    terceira fase: a partir de 1º de janeiro de 2028, o<strong> BIM deverá ser utilizado no desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia e na gestão de obras referentes a construções novas, reformas, ampliações e reabilitações, quando consideradas de média ou grande relevância para a disseminação do<strong> BIM , nos termos do disposto no art. 10, e abrangerá, no mínimo:

    a )

    os usos previstos na primeira e na segunda fase; e

    b )

    o gerenciamento e a manutenção do empreendimento após a sua construção, cujos projetos de arquitetura e engenharia e cujas obras tenham sido desenvolvidos ou executados com aplicação do<strong> BIM .

    Parágrafo único

    Quando as características técnicas do empreendimento não comportarem uma ou mais disciplinas dos modelos de arquitetura e engenharia de que trata a alínea "a" do inciso I do<strong> caput a aplicação do<strong> BIM poderá se restringir às disciplinas compatíveis com o empreendimento.

    Art. 5º

    Além do disposto no art. 4º, será observado o seguinte quanto à implementação do<strong> BIM :

    I

    na execução direta de obras e serviços de arquitetura e engenharia, a aplicação do<strong> BIM será realizada em uma ou mais etapas do ciclo de vida da construção; e

    II

    na execução indireta, por meio de contratação de obras e serviços de arquitetura e engenharia, o edital e o instrumento contratual deverão prever a obrigação de o contratado aplicar o<strong> BIM em uma ou mais etapas do ciclo de vida da construção.

    § 1º

    Os instrumentos de repasse firmados entre órgãos ou entidades da administração pública federal, vinculados às ações de disseminação do<strong> BIM , e órgãos ou entidades, de quaisquer esferas de governo, consórcio público ou entidade sem fins lucrativos deverão condicionar a transferência de recursos financeiros oriundos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União à execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia por meio da aplicação do<strong> BIM , nos termos do disposto neste Decreto.

    § 2º

    Para fins do disposto no inciso II do<strong> caput , na execução indireta de obras e serviços de engenharia, os contratantes deverão incluir, no edital ou no instrumento contratual, a obrigação de os contratados utilizarem o<strong> BIM para a execução de programas, projetos e atividades de interesse recíproco. <strong> Regras gerais do instrumento convocatório e do contrato

    Art. 6º

    A obrigação de o contratado utilizar o<strong> BIM deverá abranger, no mínimo:

    I

    os usos do<strong> BIM a que se refere o art. 4º, obedecidas as suas fases de disseminação;

    II

    a disponibilização dos arquivos eletrônicos, que deverão conter os modelos e os documentos técnicos que compõem o projeto de arquitetura e engenharia, em formato aberto (não proprietário) e em outro formato exigido pela contratante no edital de licitação;

    III

    o atendimento das exigências do órgão ou da entidade contratante em relação aos níveis de detalhamento e de informação requeridos nos projetos de arquitetura e engenharia;

    IV

    a manutenção das condições de habilitação e qualificação exigidas no processo licitatório, durante a execução do contrato, em conformidade com as obrigações assumidas, para garantia da proteção e da conservação dos serviços executados;

    V

    a execução dos serviços com o cumprimento do programa de necessidades e das diretrizes do projeto de arquitetura e engenharia referencial, elaborado direta ou indiretamente pelo órgão ou pela entidade contratante, durante a fase preparatória da licitação da obra, sem prejuízo do disposto na legislação nas normas técnicas;

    VI

    a obtenção de autorizações governamentais e o pagamento de despesas referentes a taxas, alvarás e registros em entidades públicas considerados necessários à execução dos serviços contratados;

    VII

    a responsabilidade pelo treinamento e pela capacitação dos profissionais alocados para executar os serviços sem quaisquer ônus adicionais para o órgão contratante;

    VIII

    a correção das deficiências apontadas pelo órgão contratante na execução dos serviços, em particular, aqueles decorrentes de vícios ou falhas; e

    IX

    a declaração de que os direitos autorais patrimoniais disponíveis, decorrentes da elaboração dos projetos e modelos<strong> BIM de arquitetura e engenharia e das obras, serão cedidos, sem qualquer limitação, ao respectivo órgão ou entidade contratante, no ato da contratação.

    § 1º

    O não cumprimento do disposto no inciso V do<strong> caput obrigará o contratado a corrigir ou refazer os serviços às suas próprias e exclusivas expensas.

    § 2º

    Observado o disposto no inciso VII do<strong> caput , os profissionais escolhidos pelo contratado para executar os serviços deverão estar habilitados e comprovar experiência, conhecimento ou formação em<strong> BIM .

    Art. 7º

    Os órgãos e as entidades vinculados à coordenação e à implementação do<strong> BIM poderão contratar serviços de engenharia para adaptar ao<strong> BIM os projetos de arquitetura e engenharia, em qualquer nível de detalhamento, anteriormente elaborados com emprego de outros processos ou tecnologias.

    Parágrafo único

    Sem prejuízo do disposto nas normas de cada órgão ou entidade, o documento que apresente a justificativa da necessidade de licitação poderá estar acompanhado por projeto de arquitetura e engenharia desenvolvido em<strong> BIM .

    Art. 8º

    Na contratação de serviços para a elaboração de projetos de arquitetura e engenharia, o contratante deverá definir o nível de detalhamento e de informação dos modelos<strong> BIM para atender:

    I

    aos usos do<strong> BIM a que se refere o art. 4º, obedecidas as suas fases de disseminação; e

    II

    ao programa de necessidades, observados os parâmetros mínimos e as melhores práticas para a execução de fluxos de trabalho com o uso do<strong> BIM .

    Art. 9º

    Os projetos de arquitetura e engenharia que não tenham requisitos mínimos estabelecidos por lei federal, quando exigidos pelos editais ou instrumentos contratuais publicados ou firmados pelos órgãos e pelas entidades vinculados à disseminação do<strong> BIM , deverão ser elaborados pelo contratado e deverão atender:

    I

    aos parâmetros mínimos estabelecidos neste Decreto;

    II

    às melhores práticas para a execução de fluxos de trabalho com o uso do<strong> BIM ; e

    III

    -quando couber, ao disposto nas normas técnicas pertinentes. <strong> Disposições transitórias

    Art. 10º

    No prazo de noventa dias, contado da data de entrada em vigor deste Decreto, os titulares dos órgãos e das entidades a que se refere o art. 2º publicarão, no âmbito de suas competências, ato com a definição dos empreendimentos, dos programas e das iniciativas de média e grande relevância para a disseminação do<strong> BIM , o qual deverá conter as suas especificações e as demais características necessárias à sua aplicação. <strong> Vigência

    Art. 11

    Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.


    JAIR MESSIAS BOLSONARO Fernando Azevedo e Silva Paulo Guedes Tarcisio Gomes de Freitas

    Este texto não substitui o publicado no DOU de 3.4.2020